Assim, parte-se da simbologia de uma árvore sagrada engolindo as próprias raízes para conceber um universo peculiar: nada existe em consciência; tudo existe em herança antepassada. O insondável habita personagens impelidos a cumprir suas jornadas sem ter acesso à regência de suas vidas, dedicando-se ao destino que acreditam ter escolhido, porém alheios à ilusão do livre-arbítrio.
Em contínua transposição metafísica entre a costa africana e cidades interioranas da Bahia, uma ancestralidade intocável realiza um feito extraordinário em um simples campeonato de futebol amador. Entretanto, é nesse ambiente de aparente frivolidade que se expõe, em alta voltagem, as entranhas da natureza humana: disputas por território, narrativas e micropoderes que remontam à formação da identidade brasileira e à origem da riqueza das elites que exalam hipocrisia. Além disso, há o vigor feminino em confronto com estruturas arcaicas que insistem em inviabilizá-lo.
Contudo, trata-se de um livro cuja segunda leitura talvez permita a exploração de sutilezas que flertam com a epifania. Para só então compreender-se a óbvia onipresença do sagrado, por mais que tenha permanecido oculto.
“oroboro baobá” apresenta uma narrativa fragmentada: passado, presente e futuro são narrados no tempo presente, e vários personagens seguem as suas jornadas, sem o conhecimento da conexão que os envolve. Não há um protagonista; o importante é o movimento, as pequenas sagas que acontecem, orientadas pela premissa: “ontem é hoje, amanhã é hoje, tudo o que nos forma é hoje”.
É um romance de realismo fantástico, com a presença da divindade Mutujikaka, a guardiã, e as suas entidades africanas, como a transportadora Mensawaggo, a mensageira Makonga e a dançarina Mokamassoulé, regendo a aplicação do destino, o que está previamente definido, a verdade que os humanos (e elas) não têm acesso.
A seleção de Porto Seguro é favorita para ganhar o campeonato Amadô, graças às defesas sobrenaturais do goleiro negro Montanha, fenômeno que não toma gol, ídolo que não fala, evita relações, não dá entrevista nem permite ser tocado. Ninguém conhece o seu passado intrigante, que talvez seja ligado à jovem Miwa, encontrada no mangue de Mucuri após visões fantásticas com entidades africanas, adotada e criada por três mulheres negras que são descendentes de um mesmo ancestral africano, que foi escravizado e prosperou como um rico senhor fidalgo.
Há o empresário e chefe do tráfico que é o artilheiro do time, que busca a sua redenção através do futebol. Há o jornalista investigativo que se empenha em descobrir os mistérios do goleiro imbatível. Há a educadora Maxakali que têm de se separar da tribo por ameaças de bandidos e precisa descobrir onde está o seu filho, que é adotado e negro como Miwa. Um romance com muitos personagens e muitas locações, como Caraíva, Mucuri, Nanuque, Aldeia Verde e a mágica Avenida dos Baobás, em Madagascar.
O “oroboro” é o símbolo da conexão da boca com a cauda, da cabeça com o pé, dos galhos com as raízes, o início com o fim e/ou o fim com o início. É o círculo que se consome, que gira em eterno movimento, em continuidade incessante, a ida e a volta, morte-vida & vida-morte. O tempo como roda e não lança. Tudo ao mesmo tempo agora; futuro e passado, tudo é presente. Dizem que o símbolo tem origem no Egito Antigo, representado pela cobra que come o próprio rabo. Tradicionalmente, o oroboro é uma serpente, mas há versões como dragão. Sempre um animal. Daí, a inovação do romance: um oroboro vegetal, um oroboro de baobá, em homenagem à Renala (Adansonia grandidieri), endêmica de Madagascar, a “Mãe da Floresta”, segundo os malgaxes, o baobá presente no livro.
É um dos criadores, donos da marca e coordenadores gerais da Flica (Festa Literária Internacional de Cachoeira), e atuou como curador de quatro edições da festa (de 2012 a 2014, em parceria, e 2016, sozinho). Sócio-diretor da produtora Cali, que realiza a Flica ao lado da produtora Icontent/Rede Bahia. Produtor cultural com mais de 20 anos de carreira, realizou diversos projetos com patrocínio público-privado, como festivais, shows, premiações e gravações de álbuns, e foi sócio da produtora Putzgrillo Cultura (2008 a 2012).
Compositor, possui mais de quarenta músicas gravadas, entre rock e reggae progressivo e psicodélico, blues, groove, pop rock e experimental, em inglês e português, e mais de dez trabalhos lançados, entre EP’s e álbuns. Foi produtor fonográfico, artístico e executivo da banda de rock psicodélico progressivo The Orange Poem (2000 a 2014), e do projeto de psy-prog-reggae Orange Roots (2015 a 2019). Mantém o blog “O lampião e a peneira do mestiço” (www.elmirdad.blogspot.com). O seu livro “oroboro baobá” pode ser adquirido pleo link www.editorapenalux.com.br/loja/oroboro-baoba.
Bookeiro Publish 11:23 New Google SEO Bandung, IndonesiaRomance flerta com o realismo fantástico e apresenta uma narrativa fragmentada, mesclando passado, presente e futuro
Por: Bookeiro Publish Em: 09/11/2020
Em um cenário de ampla insatisfação popular no Recife, é organizado um protesto violento que resulta na detenção do grupo de liderança após confronto com a polícia. Um dos detidos, e seu pai, um pastor evangélico, têm a oportunidade de discutir ressalvas e mágoas entre si, e expõem as mazelas das pequenas e grandes corrupções do dia a dia que alimentaram com o intuito de garantir aceitação de grupo e ascensão social. Durante a detenção policial, a investigação sobre a rede de contatos que sustenta o movimento dos manifestantes consegue atingir o objetivo, mas ainda existe um ponto inconveniente a ser resolvido pelos inquisidores… Os maus-tratos aos animais, a crítica aos preconceitos burgueses, o trabalho de base das comunidades evangélicas e o comportamento da imprensa, completam o quadro sociológico dessa ópera contemporânea do cotidiano recifense travestida de romance.
“Escrever uma trilogia é uma tentação entre escritores de ficção iniciantes. Mas vi que teria fôlego para desenvolver o projeto, tanto que já estou na metade final do segundo livro da série. Entrementes, finalizei uma novela, biografias imaginárias de compositores de frevo, que deverá ir ao prelo no final de 2020 ou início de 2021”, revela Carlos Eduardo Amaral.
O período de produção do livro “Sem Relva” foi entre novembro de 2018 e maio de 2019, exatos seis meses, tempo qual o autor costuma gastar e que se impõe para a execução de um livro ou de uma composição musical que exija mais elaboração. “A história não tem nada de baseada em eventos reais. Contudo, ela possui muitos elementos intertextuais, homenagens pessoais e referências a lugares e eventos próximos, que comentei em uma espécie de making of do livro, intitulado Poslúdio a Sem Relva, disponível apenas em versão e-book”, lembra o autor.
Um detalhe da estruturação da narrativa da obra, notado a partir do sumário, é a divisão de capítulos como se fossem cenas de uma ópera, algo que também será característico dos outros dois romances da série. Os títulos dos capítulos (ária, duo, cena, coral etc.) definem ou o tipo de narrador (em primeira ou terceira pessoa), ou os personagens-foco do narrador, e trazem títulos em língua operística (o italiano, no caso de "Sem Relva"), que remetem à carga dramática de algum momento particular do capítulo.
Atualmente, aventura-se pela seara da composição musical e coordena a assessoria de comunicação da Orquestra Criança Cidadã. É detentor da Legião de Honra Ativa e do Grau de Chevalier da Ordem DeMolay. Dentre seus livros estão: “Clóvis Pereira: No Reino da Pedra Verde” (Cepe, 2015); “Maestro Formiga: Frevo Na Tempestade” (Cepe, 2017); “Maestro Duda: Uma Visão Nordestina” (Cepe, 2017); “Getúlio Cavalcanti: Último Regresso” (Cepe, 2017); e “Jota Michiles: Recife, Manhã De Sol” (Cepe, 2019). O livro “Sem Relva” pode ser adquirido pelo link: https://bityli.com/sTN8e.
J. B. Novare 19:40 New Google SEO Bandung, IndonesiaCarlos Eduardo Amaral expande sua escrita e publica “Sem Relva”, o seu primeiro romance
Por: J. B. Novare Em: 19/08/2020
Foto: Lia Biajoni |