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Romance flerta com o realismo fantástico e apresenta uma narrativa fragmentada, mesclando passado, presente e futuro

Por: Bookeiro Publish Em: 09/11/2020


O escritor Emmanuel Mirdad, coordenador geral e criador da Flica, está lançando pela Penalux o livro “oroboro baobá”, seu primeiro romance. Da sua origem até desembocar numa foz literária, este romance finalista de dois prêmios nacionais em 2017 (Prêmio Sesc de Literatura e Prêmio Cepe Nacional de Literatura), levou mais de oito anos para ser concluído, acumulando vinte versões de si mesmo. A obra vem com 324 páginas e já se encontra disponível na loja online da editora.

Assim, parte-se da simbologia de uma árvore sagrada engolindo as próprias raízes para conceber um universo peculiar: nada existe em consciência; tudo existe em herança antepassada. O insondável habita personagens impelidos a cumprir suas jornadas sem ter acesso à regência de suas vidas, dedicando-se ao destino que acreditam ter escolhido, porém alheios à ilusão do livre-arbítrio.

Em contínua transposição metafísica entre a costa africana e cidades interioranas da Bahia, uma ancestralidade intocável realiza um feito extraordinário em um simples campeonato de futebol amador. Entretanto, é nesse ambiente de aparente frivolidade que se expõe, em alta voltagem, as entranhas da natureza humana: disputas por território, narrativas e micropoderes que remontam à formação da identidade brasileira e à origem da riqueza das elites que exalam hipocrisia. Além disso, há o vigor feminino em confronto com estruturas arcaicas que insistem em inviabilizá-lo.

Contudo, trata-se de um livro cuja segunda leitura talvez permita a exploração de sutilezas que flertam com a epifania. Para só então compreender-se a óbvia onipresença do sagrado, por mais que tenha permanecido oculto.

“oroboro baobá” apresenta uma narrativa fragmentada: passado, presente e futuro são narrados no tempo presente, e vários personagens seguem as suas jornadas, sem o conhecimento da conexão que os envolve. Não há um protagonista; o importante é o movimento, as pequenas sagas que acontecem, orientadas pela premissa: “ontem é hoje, amanhã é hoje, tudo o que nos forma é hoje”.

É um romance de realismo fantástico, com a presença da divindade Mutujikaka, a guardiã, e as suas entidades africanas, como a transportadora Mensawaggo, a mensageira Makonga e a dançarina Mokamassoulé, regendo a aplicação do destino, o que está previamente definido, a verdade que os humanos (e elas) não têm acesso.

A seleção de Porto Seguro é favorita para ganhar o campeonato Amadô, graças às defesas sobrenaturais do goleiro negro Montanha, fenômeno que não toma gol, ídolo que não fala, evita relações, não dá entrevista nem permite ser tocado. Ninguém conhece o seu passado intrigante, que talvez seja ligado à jovem Miwa, encontrada no mangue de Mucuri após visões fantásticas com entidades africanas, adotada e criada por três mulheres negras que são descendentes de um mesmo ancestral africano, que foi escravizado e prosperou como um rico senhor fidalgo.

Há o empresário e chefe do tráfico que é o artilheiro do time, que busca a sua redenção através do futebol. Há o jornalista investigativo que se empenha em descobrir os mistérios do goleiro imbatível. Há a educadora Maxakali que têm de se separar da tribo por ameaças de bandidos e precisa descobrir onde está o seu filho, que é adotado e negro como Miwa. Um romance com muitos personagens e muitas locações, como Caraíva, Mucuri, Nanuque, Aldeia Verde e a mágica Avenida dos Baobás, em Madagascar.

O “oroboro” é o símbolo da conexão da boca com a cauda, da cabeça com o pé, dos galhos com as raízes, o início com o fim e/ou o fim com o início. É o círculo que se consome, que gira em eterno movimento, em continuidade incessante, a ida e a volta, morte-vida & vida-morte. O tempo como roda e não lança. Tudo ao mesmo tempo agora; futuro e passado, tudo é presente. Dizem que o símbolo tem origem no Egito Antigo, representado pela cobra que come o próprio rabo. Tradicionalmente, o oroboro é uma serpente, mas há versões como dragão. Sempre um animal. Daí, a inovação do romance: um oroboro vegetal, um oroboro de baobá, em homenagem à Renala (Adansonia grandidieri), endêmica de Madagascar, a “Mãe da Floresta”, segundo os malgaxes, o baobá presente no livro.


Baiano de Salvador, de outubro de 1980, formado em Jornalismo pela Facom – Ufba, Emmanuel Mirdad é autor do romance “oroboro baobá” (2020), de “O limbo dos clichês imperdoáveis” (2018), reunindo os 60 contos que escreveu entre 2000 e 2018, e “Quem se habilita a colorir o vazio” (2017), reunindo os 200 poemas que escreveu entre 1996 e 2017. É autor, também, das antologias de poemas “Ontem nada, amanhã silêncio” (2017) e “Yesterday, Nothing; Tomorrow, Silence” (2018), com tradução de Sabrina Gledhill. Todos os livros estão disponíveis para leitura e download no seu blog.

É um dos criadores, donos da marca e coordenadores gerais da Flica (Festa Literária Internacional de Cachoeira), e atuou como curador de quatro edições da festa (de 2012 a 2014, em parceria, e 2016, sozinho). Sócio-diretor da produtora Cali, que realiza a Flica ao lado da produtora Icontent/Rede Bahia. Produtor cultural com mais de 20 anos de carreira, realizou diversos projetos com patrocínio público-privado, como festivais, shows, premiações e gravações de álbuns, e foi sócio da produtora Putzgrillo Cultura (2008 a 2012).

Compositor, possui mais de quarenta músicas gravadas, entre rock e reggae progressivo e psicodélico, blues, groove, pop rock e experimental, em inglês e português, e mais de dez trabalhos lançados, entre EP’s e álbuns. Foi produtor fonográfico, artístico e executivo da banda de rock psicodélico progressivo The Orange Poem (2000 a 2014), e do projeto de psy-prog-reggae Orange Roots (2015 a 2019). Mantém o blog “O lampião e a peneira do mestiço” (www.elmirdad.blogspot.com). O seu livro “oroboro baobá” pode ser adquirido pleo link www.editorapenalux.com.br/loja/oroboro-baoba.

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