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Migração de judias ortodoxas ao Brasil é ponto de partida de “Cadafalso”, romance inédito de Roberto Elisabetsky

No dia 24 de outubro, quinta-feira, às 18h30, o escritor Roberto Elisabetsky lança o romance "Cadafalso" (Editora Terceiro Nome) na Livraria da Vila. Ambientado nos anos 1930, o livro acompanha o percurso de duas judias ortodoxas, Malka e Eva, que partem para o Brasil em busca de uma nova vida e se deparam com um período turbulento de repressão policial e perseguição política praticados pelo governo de Getúlio Vargas. A estrutura do romance mescla figuras e eventos reais da história a personagens ficcionais.

Roteirista e autor do livro de contos “A última Coisa” (2015, Editora Terceiro Nome), Elisabetsky começou a escrever o romance em novembro de 2018, determinado a ambientar o enredo em um momento histórico de mudanças políticas ostensivas por todo o mundo. “As personagens centrais são mulheres que são vítimas de diversas forças de opressão, dentro e fora da comunidade a que pertencem. Malka, por exemplo, é ostracizada por não conseguir provar que seu marido havia morrido na Guerra”, conta o autor. O tempo histórico retratado pelo autor passa por períodos como a revolução que levou Getúlio Vargas ao poder pelas armas, a Revolução Constitucionalista e a tentativa do levante comunista no Brasil, planejada pela União Soviética. Nesse entremeio, figuras públicas como Olga Benário, Luis Carlos Prestes e até o jazzista Louis Armstrong passam pela obra.

“Sempre tive fascínio por obras que misturam acontecimentos reais e figuras conhecidas com a ficção”, justifica. No processo de pesquisa para a elaboração da obra, o autor recorreu a livros de história, artigos e conteúdos disponíveis na internet e entrevistas presenciais com pessoas que viveram o período retratado. “Mas é muito importante ressaltar que mesmo os fatos históricos não têm a intenção de serem fidedignos, há bastante liberdade criativa na elaboração do texto”, conta, destacando um trecho da orelha do livro, assinada pelo escritor Santana Filho: “Elisabetsky aproxima personagens das mais diversas procedências, ciente de que as histórias não precisam ser factuais, sequer verossímeis; exigem ser apenas reais”.

Como exemplos de autores que trabalham com o recurso da mistura da realidade com a ficção, Roberto destaca o cubano Leonardo Padura, o norte-americano Jonathan Franzen e o inglês Ian McEwan. “O Padura une muitas histórias verídicas à personagens fictícios; Franzen e McEwan trabalham com temas palpitantes no presente, como a questão ambiental, o levante das fake news e a bioética – o romance Enclausurado (McEwan), por exemplo, é narrado do ponto de vista de um feto”, ressalta o autor. “Mesclar esses elementos é interessante para excitar a imaginação do leitor e estimular seu conhecimento e olhar crítico – esse é um dos presentes que a literatura nos dá”, finaliza.

O pano de fundo de Cadafalso é a Polônia dos anos 1930, país que se reconstrói após a guerra, de onde Malka e Eva, judias ortodoxas, partem para recomeçar suas vidas no Brasil. Aqui, elas chegam em meio à violenta repressão oficial a cargo de Filinto Müller, chefe da polícia política de Getúlio Vargas, que persegue de forma implacável seus opositores, em especial – com uma obsessão incomum, como se verá nesta história - os comunistas Luís Carlos Prestes e sua companheira Olga Benario.

Malka e Eva desembarcam no Rio de Janeiro como prisioneiras da Zwi Migdal, organização criminosa ligada à comunidade judaica do Leste Europeu que explorava uma rede internacional de prostituição. A vida de ambas se torna uma sucessão de histórias impregnadas de preconceito, violência, perseguição, medo e corrupção, que desemboca no título deste romance: Cadafalso.

Foto: Isa Berenice Elisabetsky
Roberto Elisabetsky nasceu em São Paulo, em 1953. Deixou para trás a carreira de engenheiro para estudar cinema na Inglaterra. Trabalhou com produção cinematográfica em Nova York, onde concluiu o mestrado em Artes da Comunicação no NY Institute of Technology. Foi professor do curso de Rádio e TV da ECA-USP. É dramaturgo, roteirista, tradutor e versionista para cinema, TV e teatro musical. Como escritor, publicou o romance Take 2 pela Editora Paulicéia e, pela Terceiro Nome, a coletânea de contos A última coisa e o romance Cadafalso. Integra o Clube das Três, grupo dedicado à análise e produção literária e à promoção de encontros com autores, editores e críticos de literatura.

“Dois continentes, quatro gerações” apresenta um retrato das imigrações, baseado na narrativa de uma família

A história de quatro gerações de uma família  é narrada na detalhada obra "Dois continentes, quatro gerações", de Beti Rozen e Peter Hays, e com ilustrações de Julia Black. O livro percorre o tempo e o espaço atrás de recordações de uma família de imigrantes poloneses, que deixam sua terra de origem para migrar para o Brasil. Nessas viagens, absorvem diferentes culturas e descrevem a busca por melhores condições de vida. Baseado em fatos reais, o texto revela um pouco dos desafios da imigração que, a maior parte dos antepassados da América um dia teve de encarar.

Lançado pela Editora do Brasil, presente no mercado editorial há mais de 70 anos, a obra parte do pequeno vilarejo polonês de Pianski e passa por diversos locais, como Lublin, Varsóvia, Gdansk, Gdynia, Lisboa, Dakar, Recife e Rio de Janeiro, além de Nova Jersey, Fort Lauderdaule e Majdanek, com foco nos anos de 1934, 1939 e 2004. O livro está por R$ 56,80 pela loja online da editora (https://bit.ly/2MQuW3u).

A narrativa começa quando a professora de história de Louis, solicita, em pleno período de férias escolares, um trabalho de dez páginas que conte a origem da família dos alunos, por meio de uma pesquisa genealógica com parentes próximos. O estudante pouco conhece sua própria história e até então nunca havia demonstrado interesse pelo assunto. Sabia que sua mãe era brasileira e seu pai, assim como ele próprio, nasceu nos Estados Unidos.

A tarefa que parecia ser desinteressante, aos poucos se torna atraente para o pequeno garoto norte-americano, pois resulta em grandes aventuras e descobertas incríveis sobre a vida de seu avô polonês, Lejzer, que imigrou para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. Todo o conhecimento é obtido por meio das memórias de sua mãe, fotografias antigas e de uma parte importante da história mundial.

“A maior mensagem da obra é dar importância ao que recebemos de nossos antepassados, olhar para trás e ver que o que somos veio deles, e que, às vezes, não damos tanta importância a essas relações. A quarta geração, que é o Louis, não existiria se o bisavô dele não tivesse machucado o pé na Polônia e decidido imigrar para o Brasil. Ele poderia ter morrido em um campo de concentração”, analisa a autora.

A pesquisa da obra segue os mesmos passos de Louis. A ideia do livro surge de uma conversa da escritora com sua tia Ester (Estera, em polonês), de 94 anos, que saiu de seu país de origem aos 16 anos e mora atualmente no Rio de Janeiro. “A mais velha da família lembrava dos fatos, mesmo após a perda de seu diário. Meu pai e minha outra tia e irmãos dela eram mais novos. Meu pai faleceu em 1993 e a ideia do livro foi posterior à essa data e minha outra tia Frajda (Frida) era uma criança na época, creio que dez anos mais nova que a Ester. O fato de meu filho não gostar de estudar história também serviu de inspiração”, conta Beti.

Além da entrevista com a tia, Beti e o filho visitaram a Polônia, onde além de entrevistar sua outra tia viva, conheceram melhor os efeitos do holocausto. “Estivemos com um historiador de Piaski, cidade de meu pai, que explicou o que aconteceu. Visitamos Cracóvia e a parte da comunidade judaica, onde soubemos como foram as perseguições (dos nazistas). Peter também esteve em Auschwitz e passamos por Majdanek, perto de Lublin, dois locais que serviram como campos de concentração. Refizemos o mesmo caminho que minha família fez ao sair da Polônia: Piaski, Lublin, Varsóvia, Gdansk e Gdynia. Foi uma viagem triste”, recorda.

Apesar de ser uma história vivida no século passado, o tema é bastante atual, em um contexto de várias imigrações que ocorrem por conta de pessoas, conhecidas como refugiados, que vêm sendo obrigadas a deixar seus países de origem em busca de um lugar melhor para viver. “Temos muitos emigrantes, imigrantes e refugiados no mundo. Todos temem o futuro desconhecido. Eles têm que se ajustar a um país com cultura, idioma e comida totalmente diferentes. Eu mesma sou imigrante, pois vivo nos Estados Unidos”, analisa a autora.

Sobre as novas imigrações no mundo moderno, Beti acredita existir um avanço em relação à história de seus antepassados. “As pessoas continuam preconceituosas, apesar de tudo, mas há mais progresso hoje. Quando visitamos Nurnberg, percebemos que já há a segurança de leis internacionais (Tribunal de Nurnberg). Apesar dos problemas atuais, o mundo está melhor. Não existe mais o nazismo e há leis e instituições internacionais que não existiam no passado”, conclui.

Beti Rozen é uma escritora brasileira nascida no Rio de Janeiro e que atualmente vive nos Estados Unidos. Seus trabalhos (contos infantis e poesias) foram publicados em diversas antologias na Europa e no Brasil e em revistas para crianças em Israel e China. Recentemente, ela recebeu o Brazilian International Press Award de literatura e cultura nos Estados Unidos.

Peter Hays é um dramaturgo e escritor norte-americano com várias produções em seu país natal e uma vasta experiência na área teatral. Recebeu bolsa de estudos em Dramaturgia no New Jersey State Council of the Arts e é pós-graduado pela Tisch School of the Arts da New York University. Beti e Peter têm diversos livros infantojuvenis editados nos Estados Unidos, Brasil e Colômbia, incluindo Dois continentes, quatro gerações, que também está disponível em inglês e espanhol.

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