A história de quatro gerações de uma família é narrada na detalhada obra "Dois continentes, quatro gerações", de Beti Rozen e Peter Hays, e com ilustrações de Julia Black. O livro percorre o tempo e o espaço atrás de recordações de uma família de imigrantes poloneses, que deixam sua terra de origem para migrar para o Brasil. Nessas viagens, absorvem diferentes culturas e descrevem a busca por melhores condições de vida. Baseado em fatos reais, o texto revela um pouco dos desafios da imigração que, a maior parte dos antepassados da América um dia teve de encarar.
Lançado pela Editora do Brasil, presente no mercado editorial há mais de 70 anos, a obra parte do pequeno vilarejo polonês de Pianski e passa por diversos locais, como Lublin, Varsóvia, Gdansk, Gdynia, Lisboa, Dakar, Recife e Rio de Janeiro, além de Nova Jersey, Fort Lauderdaule e Majdanek, com foco nos anos de 1934, 1939 e 2004. O livro está por R$ 56,80 pela loja online da editora (https://bit.ly/2MQuW3u).
A narrativa começa quando a professora de história de Louis, solicita, em pleno período de férias escolares, um trabalho de dez páginas que conte a origem da família dos alunos, por meio de uma pesquisa genealógica com parentes próximos. O estudante pouco conhece sua própria história e até então nunca havia demonstrado interesse pelo assunto. Sabia que sua mãe era brasileira e seu pai, assim como ele próprio, nasceu nos Estados Unidos.
A tarefa que parecia ser desinteressante, aos poucos se torna atraente para o pequeno garoto norte-americano, pois resulta em grandes aventuras e descobertas incríveis sobre a vida de seu avô polonês, Lejzer, que imigrou para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. Todo o conhecimento é obtido por meio das memórias de sua mãe, fotografias antigas e de uma parte importante da história mundial.
“A maior mensagem da obra é dar importância ao que recebemos de nossos antepassados, olhar para trás e ver que o que somos veio deles, e que, às vezes, não damos tanta importância a essas relações. A quarta geração, que é o Louis, não existiria se o bisavô dele não tivesse machucado o pé na Polônia e decidido imigrar para o Brasil. Ele poderia ter morrido em um campo de concentração”, analisa a autora.
A pesquisa da obra segue os mesmos passos de Louis. A ideia do livro surge de uma conversa da escritora com sua tia Ester (Estera, em polonês), de 94 anos, que saiu de seu país de origem aos 16 anos e mora atualmente no Rio de Janeiro. “A mais velha da família lembrava dos fatos, mesmo após a perda de seu diário. Meu pai e minha outra tia e irmãos dela eram mais novos. Meu pai faleceu em 1993 e a ideia do livro foi posterior à essa data e minha outra tia Frajda (Frida) era uma criança na época, creio que dez anos mais nova que a Ester. O fato de meu filho não gostar de estudar história também serviu de inspiração”, conta Beti.
Além da entrevista com a tia, Beti e o filho visitaram a Polônia, onde além de entrevistar sua outra tia viva, conheceram melhor os efeitos do holocausto. “Estivemos com um historiador de Piaski, cidade de meu pai, que explicou o que aconteceu. Visitamos Cracóvia e a parte da comunidade judaica, onde soubemos como foram as perseguições (dos nazistas). Peter também esteve em Auschwitz e passamos por Majdanek, perto de Lublin, dois locais que serviram como campos de concentração. Refizemos o mesmo caminho que minha família fez ao sair da Polônia: Piaski, Lublin, Varsóvia, Gdansk e Gdynia. Foi uma viagem triste”, recorda.
Apesar de ser uma história vivida no século passado, o tema é bastante atual, em um contexto de várias imigrações que ocorrem por conta de pessoas, conhecidas como refugiados, que vêm sendo obrigadas a deixar seus países de origem em busca de um lugar melhor para viver. “Temos muitos emigrantes, imigrantes e refugiados no mundo. Todos temem o futuro desconhecido. Eles têm que se ajustar a um país com cultura, idioma e comida totalmente diferentes. Eu mesma sou imigrante, pois vivo nos Estados Unidos”, analisa a autora.
Sobre as novas imigrações no mundo moderno, Beti acredita existir um avanço em relação à história de seus antepassados. “As pessoas continuam preconceituosas, apesar de tudo, mas há mais progresso hoje. Quando visitamos Nurnberg, percebemos que já há a segurança de leis internacionais (Tribunal de Nurnberg). Apesar dos problemas atuais, o mundo está melhor. Não existe mais o nazismo e há leis e instituições internacionais que não existiam no passado”, conclui.
Beti Rozen é uma escritora brasileira nascida no Rio de Janeiro e que atualmente vive nos Estados Unidos. Seus trabalhos (contos infantis e poesias) foram publicados em diversas antologias na Europa e no Brasil e em revistas para crianças em Israel e China. Recentemente, ela recebeu o Brazilian International Press Award de literatura e cultura nos Estados Unidos.
Peter Hays é um dramaturgo e escritor norte-americano com várias produções em seu país natal e uma vasta experiência na área teatral. Recebeu bolsa de estudos em Dramaturgia no New Jersey State Council of the Arts e é pós-graduado pela Tisch School of the Arts da New York University. Beti e Peter têm diversos livros infantojuvenis editados nos Estados Unidos, Brasil e Colômbia, incluindo Dois continentes, quatro gerações, que também está disponível em inglês e espanhol.
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