Hoje acordei com o toque do sino que parecia penetrar minha alma. O soar dos sinos nos remete à oração, conecta-nos conscientemente ao sagrado e enche o coração da gente de célicos sentimentos. Uma borboleta apareceu na minha janela e fez-se céu no meu dia nublado e frio. Era uma borboleta solitária, daqui da janela ela voou para as flores que enfeitam o claustro. Viver na clausura é desdobrar-se constantemente para uma vida de oração, trabalho e sacrifício.
Choramos quando descobrimos uma doença, e sorrimos esperançosos quando aprendemos a conviver com ela. Assim é a dor, ela vem como porta de entrada par um caminho que parece não ter volta, mas tem. Carlos Drummond de Andrade dizia que a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. Refletir sobre a dor e o sofrimento é lançar um olhar profundo sobre o autoconhecimento e a autoaceitação, é respeitar o nosso corpo como algo sagrado.
Conheci uma mulher que estava sempre alegre, apesar de seu sofrimento, ela morreu sorrindo. Fiquei impressionado com a força que ela tinha mesmo estando debilitada e sofrendo com uma doença. Ela me ensinou que para conseguirmos vencer algo que seja maior do que nós só mesmo sorrindo. Porque uma alma feliz é morada de Deus. Transformar o sofrimento em expiação, oferecendo tudo por amor. Nesse intervalo da vida entre a alegria e a morte o que essa forte mulher me ensinou foi muito mais que ser alegre, ela ressignificou com a própria vida as suas muitas dores em flores. No leito de seu sofrimento ela deu amor, colo aos filhos e netos, e sorriu até os últimos momentos.
Essa incrível mulher que quis na sua existência imitar Maria, iluminou muitas vidas com sua luz e suas cores e a minha vida é uma delas. Dona Esmelina, minha querida avó, no nome e na vida sempre foi flor. Nosso Senhor a levou para florir lá no céu.
Aqui no silêncio do claustro, entre as borboletas e as lembranças de minha avó o sol do meio-dia se vai, alguns medos e gélidas tristezas também, mas as flores e a saudade são partes de mim. Os sinos despertam em nós sentimentos afáveis e anunciam que a nossa morada é no céu.
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