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Segredos da ditadura militar são revelados em novo livro do historiador Paulo Cesar Gomes

Por: J. B. Novare Em: 08/07/2019

Lançado recentemente em São Paulo, a obra “Liberdade Vigiada - As Relações Entre A Ditadura Militar Brasileira e O Governo Francês: Do Golpe À Anistia” é o mais novo livro do escritor e historiador Paulo Cesar Gomes. O livro foi produzido com base em documentos sigilosos consultados tanto no Brasil, quanto na França, e nele são analisados conteúdos de uma série de papéis sigilosos, nacionais e estrangeiros, conhecidos como os “documentos secretos da ditadura”, revelando fatos até então desconhecidos sobre o regime ditatorial. A edição é da Editora Record com 560 páginas e encontra-se disponível nas principais livrarias físicas e online do país. O autor estará, em novo evento sobre o livro, na Livraria Taverna em Porto Alegre (RS), no próximo dia 17 de agosto.

A França sempre teve sua imagem externa tradicionalmente vinculada à de uma terra de asilo, tendo sido o país em que os exilados brasileiros se concentraram em maior número a partir de 1973. Ao mesmo tempo, as autoridades francesas […] buscaram não se pronunciar sobre a conjuntura política brasileira, com o intuito de manter a regularidade de suas relações com nosso país. Da mesma forma, durante muito tempo, prevaleceu a versão segundo a qual a diplomacia brasileira não se envolveu nas arbitrariedades perpetradas pela ditadura militar [...]. Todavia, em 2011, com a Lei de Acesso à Informação, o acervo documental do período finalmente pôde ser consultado [...]. O historiador Paulo César Gomes aceitou o desafio e mergulhou no mundo até então secreto do Itamaraty e dos diversos órgãos ligados ao Serviço Nacional de Informações (SNI). Em “Liberdade Vigiada”, ele apresenta o resultado de sua pesquisa, que se materializa nesta obra sólida, baseada em evidências e articulada em termos analíticos e teóricos, escrita com grande elegância narrativa.

Logo depois da publicação do seu primeiro livro, Paulo Cesar Gomes sentiu a necessidade de pesquisar outras temáticas, embora dentro do período da ditadura militar brasileira. Quando os arquivos ligados aos órgãos de segurança e informações do Ministério das Relações Exteriores começaram a ser liberados para a consulta pública, ele foi consultá-los. O que o deixou bastante surpreso com a riqueza do acervo. “Minha ideia inicial era analisar a maneira como o governo brasileiro monitorou os exilados brasileiros que foram para a França naquele período, já que Paris foi a capital europeia que acolheu o maior número de brasileiros que buscavam escapar de perseguições políticas que vinham sofrendo no Brasil. No entanto, ao me aprofundar na análise dos documentos, decidi fazer um trabalho mais amplo de história das Relações Internacionais no período, embora não tenha deixado de lado a questão dos exilados”, revela.

A intenção central do livro é buscar compreender de que maneira a existência de um regime ditatorial no Brasil afetou as relações franco-brasileiras. “Lembrando que a França construiu para si a imagem de berço da democracia e, também, de uma terra de acolhimento de refugiados políticos. Minha descoberta mais significativa foi observar que a França, embora tenha recebido muitos brasileiros, nunca pronunciou publicamente qualquer crítica às violações aos direitos humanos que vinham sendo praticados no Brasil. A mesma afirmação não pode ser feita acerca da imprensa francesa, que denunciou constante a ditadura brasileira”, frisa o autor.

Paulo Cesar Gomes mora no Rio de Janeiro. É historiador e sua formação acadêmica (graduação, mestrado e doutorado) ocorreu inteiramente na UFRJ, embora tenha nascido em Brasília (DF). Atuou como pesquisador da Comissão Nacional da Verdade e, em seguida, criou um site de divulgação do conhecimento histórico chamado História da Ditadura (www.historiadaditadura.com.br). Logo após a defesa de sua tese de doutorado, atuou como professor substituto de História do Brasil Republicano na UFF.

Possui dois livros publicados. O primeiro, intitulado “Os Bispos Católicos e A Ditadura Militar Brasileira: A Visão da Espionagem”, foi publicado em 2014 pela editora Record; e o segundo, “Liberdade Vigiada”. “As Relações Entre A Ditadura Militar Brasileira e O Governo Francês: Do Golpe À Anistia”, acaba de ser publicado pela mesma editora. “Tenho divido minhas atividades acadêmicas em duas frentes: os estudos relativos à ditadura militar e a produção de conhecimento para um público mais amplo, a chamada História Pública”, revela Paulo Cesar. O escritor é também curador do Clube Da Vinci, o clube de livros por assinatura da livraria Leonardo da Vinci, no Rio de Janeiro.

Em seu primeiro, “Os Bispos Católicos e A Ditadura Militar Brasileira: A Visão da Espionagem”, o autor traz o resultado da pesquisa desenvolvida no seu mestrado. Na obra, o objetivo foi analisar de que forma os órgãos repressivos da ditadura buscaram impedir as denúncias dos bispos chamados “progressistas” contra o governo brasileiro tanto em território nacional como no exterior. Os governantes brasileiros buscaram a todo custo impedir as atividades oposicionistas desses bispos. No entanto, seu poder de repressão contra eles era muito limitado, já que sua posição na hierarquia da Igreja acabava protegendo-os, impedindo com que fossem tratados da mesma maneira que os outros oposicionistas.

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